Agência
FAPESP - Após mais de uma década de mobilização e expectativa de sua
comunidade científica, o Brasil aderiu oficialmente à
Plataforma Internacional de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na
sigla em inglês) - maior iniciativa multilateral para tornar acessíveis
na internet dados sobre biodiversidade.
A rede composta por 58 países
e 46 organizações reúne informações sobre a ocorrência de espécies vegetais,
animais e de microrganismos registradas em herbários, museus, coleções
zoológicas e microbianas além de sistemas com dados de observação.
O protocolo de entendimento
foi assinado no dia 24 de outubro pelo ministro da Ciência, Tecnologia e
Inovação, Marco Antonio Raupp.
A iniciativa insere o país -
que abriga 15% da biodiversidade do planeta - em uma comunidade
global que compartilha dados, informações, ferramentas, competências e
experiências relacionadas à gestão dos recursos de informações
biológicas.
"A entrada do Brasil é um
passo muito significativo para nós. Defendemos a visão de um mundo em que a
informação sobre a biodiversidade esteja livremente e universalmente disponível
para a ciência e para a sociedade. Isso requer a participação do maior número
possível de países detentores de megadiversidade, como o Brasil", disse Tim
Hirsch, responsável pela comunicação do GBIF, à Agência FAPESP.
Segundo Hirsh, a adesão
beneficiará também o Brasil. "Com dez anos de experiência na construção de
sistemas para gerenciamento de informação sobre a biodiversidade, o GBIF oferece
ferramentas, treinamento e padrões para agilizar a digitalização, mobilização,
descobrimento, acesso e uso dos dados", afirmou.
Para Carlos Alfredo Joly,
coordenador do Programa BIOTA-FAPESP, o acesso a essas ferramentas é de
fundamental importância para a ciência brasileira. "Permitirá, por exemplo,
trabalhar com cenários de mudanças climáticas e as consequências disso na
distribuição de espécies", disse.
Além disso, a adesão traz um
novo status e maior visibilidade aos acervos de museus, herbários e coleções
brasileiras. "Essas informações passam a estar disponíveis para qualquer
pessoa interessada em fazer pesquisa nessa área, não apenas a quem vai visitar
as instituições", disse.
Como lembrou Joly, o Brasil
participou ativamente das discussões para a criação do GBIF, no fim dos anos
1990, e para a definição do modelo de informatização e gerenciamento da rede de
dados. "O BIOTA-FAPESP foi criado na mesma época e todo o sistema de
informação do programa foi desenvolvido de forma a ser totalmente compatível e
fácil de ser integrado ao GBIF", disse.
Atualmente, há mais de 5
milhões de registros de amostras coletadas ou observadas no Brasil - dos quais
2,3 milhões estão georreferenciados - disponíveis on-line e aptos a serem
imediatamente integrados ao banco de dados do GBIF. As informações estão
reunidas na rede speciesLink, que nasceu como um projeto do Programa
BIOTA-FAPESP e hoje tem abrangência nacional.
"O speciesLink foi criado
para digitalizar e tornar disponíveis on-line os acervos de 12 museus de
zoologia e herbários do Estado de São Paulo", contou Joly.
Quando terminou o projeto,
apoiado pela FAPESP, a iniciativa continuou com apoio do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação(MCTI) e também com financiamento internacional.
"Hoje, a plataforma reúne
285 coleções e subcoleções de todos os Estados brasileiros, com exceção do
Amapá", disse Dora Canhos, pesquisadora do Centro de Referência em
Informação Ambiental (Cria), que gerencia o sistema de informação.
Mas ainda há muito trabalho a
ser feito, acrescentou Canhos. "Se reuníssemos todas as coleções brasileiras em
um único museu, estima-se que teríamos mais de 30 milhões de registros. Hoje
apenas 5 milhões estão digitalizados e disponíveis on-line", disse.
Embora o Brasil ainda não
fosse oficialmente membro do GBIF, mais de 1,6 milhão de registros relativos à
biodiversidade nacional já estavam acessíveis na rede global, provenientes de
mais de 700 bancos de dados mantidos em 28 países.
Nos últimos três anos, segundo
divulgou a rede global, pelo menos 18 trabalhos de pesquisas de autores
brasileiros citaram o uso de dados mediados pela plataforma GBIF. No mundo, em
média, cerca de quatro artigos revisados por pares são publicados a cada semana
com dados acessados pela rede GBIF.
Sistema
brasileiro
A diretora de Políticas e
Programas Temáticos do MCTI, Mercedes Bustamante, ressaltou que a adesão ao GBIF
ocorre no momento em que o Brasil está estruturando seu próprio sistema nacional
de informação sobre a biodiversidade.
Denominada Sistema de
Informações para a Biodiversidade e Ecossistemas Brasileiros (SIB-BR), a
iniciativa é conduzida pelo MCTI em parceria com o Fundo Global para o Meio
Ambiente (GEF, na sigla em inglês) e envolve investimento de US$ 28
milhões.
"A experiência do GBIF pode
servir de modelo para a rede brasileira, pois não se trata simplesmente de um
banco de dados, mas de uma plataforma que permite, por exemplo, usar ferramentas
para análise das informações ali contidas", disse Bustamante.
Um dos objetivos do SIB-BR,
acrescentou a diretora do MCTI, é fazer com que as informações sobre
biodiversidade já sistematizadas sejam incorporadas ao processo de tomada de
decisões e formulação de políticas públicas.
"A ideia é que o SIB-BR não
substitua sistemas já existentes, como a rede specieslink. Trata-se de uma
plataforma agregadora, que vai incorporar as informações já digitalizadas. As
instituições que não têm condições de manter seus próprios bancos de informação
poderão fazer isso por meio do sistema nacional", afirmou.
Participante
associado
O Brasil ingressa,
inicialmente, como associado ao GBIF. Embora possa participar plenamente na
publicação de dados e projetos de capacitação, não contribui financeiramente e
não possui direito de voto no Conselho de Administração.
A partir da assinatura do
protocolo de entendimento, o país se comprometeu a se movimentar para a
participação votante em um prazo de cinco anos.
Na América Latina, Argentina,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Nicarágua, Peru e Uruguai já integram
o GBIF. A rede foi fundada por um grupo de países em 2001 - com sede em
Copenhague, na Dinamarca -, após recomendação do fórum de megaciência, hoje
denominado Fórum de Ciência Global da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE).
Atualmente, o GBIF concentra
mais de 388 milhões de registros, de mais de 10 mil bancos de dados provenientes
de 422 instituições.
Fonte: Portal Agência FAPESP
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