segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Para especialista, morte de árvores pode não significar mais emissões

O climatologista Antonio Donato Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), está cético em relação ao estudo divulgado na semana passada que afirmou que as árvores mortas na Amazônia poderão emitir 5 bilhões de toneladas de CO2.

De acordo com o especialista, o trabalho, liderado pelo britânico Simon Lewis, “não foi a campo para medir as emissões”. Além disso, a morte de árvores, diz, não resulta necessariamente em mais emissões de CO2.

“A mortalidade das árvores não é igual a emissões. Existe um tempo considerável entre a cessação da vida na planta e sua decomposição”, disse.

Nobre, que é especialista em biosfera e desenvolvimento sustentável para a Amazônia, explicou que quando uma árvore tomba, as copas vizinhas fecham rapidamente o buraco que se abre no dossel (espécie de “teto” da floresta, formado pelas copas). Isso retardaria o processo de decomposição.

“Depois de muito tempo [mais de 20 anos], a necromassa lenhosa irá eventualmente virar CO2 ou DOC (carbono orgânico dissolvido), dependendo se a decomposição for aeróbica ou anaeróbica”, afirma.

“Sem falar na bomba biótica de umidade, a nova teoria que explica também os aspectos evolutivos do metabolismo das árvores com o funcionamento do sistema de chuvas e ventos na bacia amazônica”, completa o especialista.

Um estudo publicado na revista “Science” na semana passada afirmou que as árvores amazônicas mortas na seca de 2010 – a pior dos últimos cem anos – poderiam liberar CO2 equivalente à produção industrial dos EUA.

No ano passado, uma área de 3 milhões quilômetros quadrados foi atingida pela estiagem. Os cientistas da Universidade de Leeds e do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) relacionaram os dados de seca com o crescimento das árvores (a partir de dados de campo coletados em 2005).

“A seca extraordinária no Rio Negro revelou petróglifos [imagens geometrizadas e representações simbólicas] nas pedras no fundo do rio, o que indica que a região já havia enfrentado secas fortes anteriormente”, conclui Nobre.

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