quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Clima: homem é o maior vilão

Quando o assunto é aquecimento global, os pesquisadores estão como o planeta: em polvorosa. Não há consenso para explicar os últimos fenômenos meteorológicos ocorridos no mundo. Mas de uma coisa se tem certeza: trata-se de um processo sem volta e a ação humana já ultrapassou em muito o limite do aceitável


Apesar da previsão do calendário maia de que o mundo como conhecemos vai acabar em 21 de dezembro de 2012, o mais provável é que não ocorra nada do que mostra o filme 2012, lançado em novembro do ano passado. Na trama dirigida por Roland Emmerich, o personagem do ator John Cusak luta para salvar sua família, enquanto o planeta se parte ao meio.


Cenários catastróficos volta e meia ganham destaque no cinema e na imprensa, porém a maioria dos pesquisadores (físicos, astrônomos e meteorologistas, entre outros) não assina embaixo de teorias apocalípticas como essa.


É fato que o planeta Terra está passando por mudanças ambientais importantes. O marco inicial desse processo é a Revolução Industrial, que data do século 19. Foi nessa época que as fábricas começaram a demandar mais recursos naturais para produzir bens de consumo. O principal impacto da crescente atividade fabril - em vigor até hoje - foi o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, especialmente do dióxido de carbono (CO2) produzido na queima de combustíveis, como o óleo diesel e a gasolina.


Não por acaso, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), de 2007, aponta o dióxido de carbono como um dos principais vilões do aquecimento global e recomenda que as emissões sejam reduzidas à metade. Para o órgão, a maior autoridade no tema, há 90% de chance de o aquecimento do planeta ser provocado pelo acúmulo desse gás na atmosfera.

RISCO DE INUNDAÇÕES:


O derretimento do gelo que está sobre a terra firme, como no polo Sul, vai contribuir para a elevação do nível do mar, ameaçando ilhas e cidades costeiras. No pior dos cenários desenhado por especialistas, o nível pode aumentar em 59 centímetros.


Segundo o meteorologista e pesquisador Marcos Sanches, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de Cachoeira Paulista, a 230 quilômetros de São Paulo, a concentração de CO2 aumentou 37% entre 1750 e 2007 (saltou de 280 ppm - partes por milhão - para 383 ppm). "Isso faz com que o efeito estufa, se intensifique e provoque o aumento da temperatura média no planeta", diz.


Previsões do IPCC indicam que a média da temperatura mundial subirá entre 1,8 e 4 °C até 2100. Nos últimos 100 anos, a elevação foi de aproximadamente 0,7 °C (em 2005, a temperatura média planetária ficou em 14,65°C). Uma alteração de 2 °C já seria suficiente para acelerar o derretimento do gelo que recobre a Antártida e a cordilheira dos Andes. "O gelo que está sobre a terra firme, como no polo Sul, não faz parte do volume de água dos oceanos. Por isso, ao derreter, ele contribui para elevar o nível das águas, ameaçando cidades costeiras e ilhas", diz Marcos Sanches. "Bem diferente da geleira que forma o polo Norte, que funciona como cubos de gelo num copo d’água. Ao derreter, ela não aumenta o volume de água."


O pior dos cenários projetados pelo IPCC prevê uma elevação de 6,4 °C na temperatura, o que elevaria os níveis oceânicos em 59 centímetros. Alguns especialistas acreditam que a progressiva fusão de gelo no polo Norte vai causar outro tipo de impacto: o enfraquecimento da corrente oceânica termohalina, que leva as águas quentes da região equatorial para as águas frias do norte do oceano Atlântico, e vice-versa. A termohalina funciona como um regulador de temperatura da Terra.


Um estudo recente do norte-americano Josh Willis, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia, Estados Unidos, entretanto, defende que a circulação de águas continua tão intensa como antes, com a diferença de que hoje há um volume maior sendo transportado, pois as do Atlântico estão mais quentes.


ATIVIDADE SOLAR PODE INFLUENCIAR A TEMPERATURA


As divergências entre os estudiosos não ficam por aí.


Sabe-se que outro fator de influência nas mudanças climáticas é a atividade solar. Os cientistas monitoram o Sol há pelo menos quatro séculos. Para uma estrela de 5 bilhões de anos, é pouco.


Segundo Gastão Lima Neto, professor de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da Universidade de São Paulo (USP), apenas os registros de 1,5 século são exatos. Com base neles, sabe-se que o Sol cumpre ciclos de 11 anos. O acompanhamento é feito pela observação da quantidade de manchas na superfície da estrela: quanto mais pontos escuros, mais intensa é a atividade. Logo, mais radiação ele emite para a Terra.


A partir de 2008, esperava-se o aumento da atividade solar. Essa retomada atrasou alguns meses e provocou um burburinho na comunidade acadêmica. "Começou-se a considerar a possibilidade de isso acarretar o resfriamento de nosso planeta", diz Gastão. Para alguns pesquisadores, a julgar pela atual situação de crescente atividade solar, isso não ocorrerá. Há quem discorde, como Shigenori Maruyama, professor da Universidade Tecnológica de Tóquio e geólogo especializado em Ciência Planetária Terrestre. Para ele, a ação do Sol vai, sim, colaborar para o resfriamento da Terra.


No livro Aquecimento Global?, o pesquisador japonês refuta a tese de que as atuais altas temperaturas sejam provocadas pelo acúmulo de CO2. Com base na análise da variação da atividade solar nos últimos 400 anos, Maruyama concluiu que os picos do número de manchas solares têm ciclos de 100 anos - e não de 11. Para ele, desde 2008 estamos próximos de ultrapassar um pico. De acordo com ele, o último aquecimento foi causado pela atividade solar que deverá enfraquecer, indicando grande possibilidade de a temperatura cair. Por esse raciocínio, com emissão ou não de CO2, a Terra passará por mudanças climáticas.

AQUECIMENTO:


A atividade solar, que influencia a temperatura do planeta, é observada com exatidão há 150 anos. O acompanhamento é feito pela observação da quantidade de manchas na superfície da estrela. Quanto mais pontos escuros, mais ativo o Sol está.


Dentro das diversas linhas de pesquisa científica, há um ponto pacífico: o estilo de vida do homem tem que mudar.


"Atualmente somos 6,6 bilhões de habitantes consumindo o que existe sobre a superfície terrestre a um ritmo superior ao da capacidade de reposição do planeta. Estima-se que consumimos 25% além do que o meio ambiente consegue repor", lembra Emerson Galvani, geógrafo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.


Com a perspectiva de chegarmos aos 7 bilhões de habitantes em dois anos, fica difícil imaginar uma mudança radical nesse quadro. Uma das saídas é tentar diminuir o impacto dessa ocupação no planeta e o consequente aumento da concentração de gases de efeito estufa.


Ricardo de Camargo, físico e professor de Meteorologia do IAG, recomenda cautela. "Não é para radicalizar. A questão é de sustentabilidade. Não é o caso de parar de consumir. É preciso pensar em como usar os recursos", diz.


Fonte: Planeta Sustentável

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